Curta Saraus
Um documentário sobre a guerrilha da palavra na periferia de São Paulo
A resistência cultural toma os bairros periféricos de São Paulo. O curta documental de David Alves conta de primeira mano como é que a poesia levou à transformação social nas comunidades da maior metrópole da América do Sul
A guerrilha da palavra tomou a periferia de São Paulo. Os vizinhos dos bairros populares, alheios às infra-estruturas e à vasta oferta cultural da metrópole de 20 milhões de habitantes, estão protagonizando um movimento literário e social que tem sua manifestação mais importante nos saraus, os encontros de arte e poesia que se realizam semanalmente nos butecos das periferias. “É nossa Primavera de Praga”, afirma Sérgio Vaz, promotor da Cooperifa, um dos saraus mais antigos e consolidados na periferia sul paulistana.
Os saraus popularizam a poesia, recuperam sua tradição de oralidade, e descobrem uma poesia que fala a língua do povo; que convida a criar. A beleza é necessária, como diz o Binho, outro dos agitadores culturais da zona sul; mas trás a arte fica a utopia, o desejo de mudança que nasce da indignação ante a injustiça social. Porque, como o Binho gosta de falar, “uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando inteiro”. Mesmo que a desculpa pra se reunir seja a arte, palavras como resistência, dignidade e periferia são as mais pronunciadas. É a rebeldia de um povo que protesta pela exclusão social, que reinventa a sua identidade estigmatizada. Um povo que, diante do abandono das autoridades, decide se valer por si próprio; se não tem centros culturais, então toma os bares na procura de pontos de encontro desde os quais ele pode escrever sua própria história, essa da qual quiseram se apropriar a mídia, os livros de texto e esses intelectuais “encastelados” que critica o escritor Marcelino Freire.
O paulistano David Alves da Silva, junto com o coletivo ‘Arte na Periferia’, quis contar essa história que ele mesmo ajudou a criar. Mas, antes que divagar em cabeçudas reflexões sobre o fenômeno, ele preferiu dar a voz aos próprios saraus. Os investigou para mostrá-los ao público na sua essência natural, essa que nasce do encontro e a espontaneidade, essa que une a arte ao compromisso social. Parafraseando ao poeta do povo, Solano Trindade: “Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte”.
O resultado é o curta-metragem Curta Saraus, um filme de 15 minutos que aspira a divulgar o trabalho artístico na periferia paulistana e que sugere uma reflexão sobre a arte como agente de transformação social. Legendado em espanhol, francês e inglês, o filme tem começado o seu rodagem dentro e fora do Brasil. Curta Saraus esteve em junho no Festival Brésil em Mouvements, organizado pela ONG Autres Brésils em Paris, e o equipe realizador foi convidado a participar nos Encontros de Cinema do Mundo, também em Paris, nos eventos de Berlim na Biblioteca e na I Semana de Arte Periférico que organiza a Universidade de Buenos Aires (UBA) neste mês de agosto.
Já no Brasil, o filme tem ganhado prêmios e menções honoríficas em festivais como o Cinema Mundo de Itaú, a Mostra Competitiva de Riberão Preto e o Festival de Cinema de Jericoacoara. Curta Saraus entrou na seleção oficial do Curta DOC e no Festival de Curta-Metragens de São Paulo e será mostrado no seminário sobre cultura e transformação social que se celebra em agosto na Universidade Federal de Santa Catarina. Além disso, será programado na TV Brasil.
Enlaces
O trailer: http://www.youtube.com/watch?v=YzXgi138-ik
Mais informações sobre o projeto: http://curtasaraus.blogspot.com/
Sobre David Alves: http://www.davidnoar.blogspot.com/
E mais sobre os saraus na reportagem ‘Una flor en el asfalto’: http://www.fronterad.com/?q=node/1304
Sobre os festivais e eventos:
Festival Autres Brésils: http://www.autresbresils.net/spip.php?article2059
Encontros de Cinema do Mundo: www.vive-fr.org/rencontrescinemagrigny
Berlim na Biblioteca: www.alivraria.de
Curta DOC: www.curtadoc.tv
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